Cálculo é do consultor João Birkham, segundo quem o mercado
está travado por causa do tabelamento do transporte rodoviário.
Por Raphael Salomão
Indefinição relacionada aos preços do frete rodoviário tem
provocado reduções de R$ 5 a R$ 10 por saca de soja, em média, no Brasil. A
afirmação é do consultor João Birkham, diretor do Sim Consult, em Mato Grosso.
Na região oeste da Bahia,onde estão localizados municípios
como Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, a saca de 60 quilos que, nas contas
dele, deveria estar cotada em torno de R$ 77 não tem sido cotada por mais de R$
67.
“Novos negócios não estão saindo. Ainda tem um saldo de
safra velha que não está sendo comercializado. Está muito ruim, o mercado
travou”, diz ele.
“Só está movimentando quem já está com o navio esperando
para embarcar, e assume esse risco”, acrescenta o consultor.
Surgida nas negociações do governo para encerrar a greve dos
caminhoneiros entre maio e junho, a política de preços mínimos do frete
rodoviário já foi aprovada no Congresso Nacional. Mas tem sido duramente
criticada por lideranças do agronegócio, que reclamam de “intervencionismo” e
falam em aumento de custos com o transporte.
No setor de grãos, negócios que tinham sido fechados
considerando um determinado custo de transporte estão sendo concretizados a
preços diferentes, por conta da mudança nas regras.
Estimativas da Associação Nacional dos Exportadores de
Cereais (Anec) apontam que o custo adicional de logística pode ficar próximo de
US$ 2,4 bilhões. A perda de receita das tradings já passa de 20%.
“Poderíamos estar embarcando mais navios para a China, nesse
ambiente de guerra comercial, mas não estamos aproveitando”, lamenta Birkham.
A discussão sobre o frete mínimo está nas mãos da Justiça,
sob responsabilidade do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele deve se pronunciar no próximo dia 27 a respeito de ações movidas por
entidades setoriais, entre elas a Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA). Até lá, Fux suspendeu os efeitos de outras decisões judiciais
sobre o assunto.
João Birkham menciona como ponto importante da avaliação do
ministro o chamado frete de retorno. Segundo ele, se Fux decidir a favor de
demanda dos caminhoneiros, as empresas que contratam o transporte deverão arcar
com os custos também do trajeto de volta, mesmo se o caminhão estiver vazio.
O retorno, que, geralmente tem um preço menor que a ida até
o porto com o produto agrícola, é utilizado, principalmente, para atender à
demanda por fertilizantes, cuja entrega está atrasada e pode comprometer o
plantio da próxima safra.
“Se o caminhão volta vazio, é um problema do caminhoneiro.
Se a decisão do Fux for favorável aos motoristas, o custo disso para as
empresas vai ser enorme. É o mercado que tem que se ajustar, não se pode mudar
as regras com um canetaço”, protesta Birkham.
Fonte: Globo Rural