
Dois pesquisadores montaram um modelo matemático em Python, que prevê desastres para o coronavírus no Brasil caso não sejam tomadas medidas para conter a epidemia no país.
Os autores desse feito são José Dias do Nascimento Júnior — professor e doutor em Astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e astrônomo associado ao Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics — e Wladimir Lyra, doutor da New Mexico State University.
Lyra explica que há apenas duas maneiras de finalizar essa epidemia.
“A primeira é quando muitas pessoas foram infectadas e desenvolveram imunidade ao se curar. Quando isso acontece, não existem mais pessoas suscetíveis e, portanto, segundo a regra (A) do modelo, não há novas infecções possíveis. Obviamente esse caso é terrível, foi praticamente toda a população infectada em algum momento durante a epidemia, e o número de mortos pode ser assustador”, ele alerta.
O professor resume que “a segunda maneira de terminar a epidemia é quando a taxa de infecção é menor do que a taxa de remissão e, então, a epidemia é contida. A quarentena (ou vacina) funciona por diminuir a taxa de infecção. O tratamento funciona para aumentar a taxa de remissão. Sem tratamento ou vacina, temos apenas a quarentena como medida eficaz”.
A base de dados do CSSE consultada pelos cientistas durante a pesquisa apresenta informações de todos os países atingidos pela epidemia. Os principais utilizados no modelo foram:
China, Coreia do Sul, Itália, Suécia, Estados Unidos e Brasil.
O modelo alerta para até 2 milhões de mortes no Brasil no pior cenário previsto.
O modelo dos pesquisadores quando aplicado ao estado de epidemia no Brasil mostra que cada pessoa infectada está, em média, infectando 6 pessoas.
A partir dessa taxa, o número de casos dobra entre 2 e 3 dias.
Lyra anuncia que “se continuar dessa maneira, sem fazermos nada, a epidemia terá seu pico daqui a 50 dias, no começo de maio, com 53% da população infectada ao mesmo tempo. Isso significa mais de 100 milhões de casos. Os hospitais não têm capacidade de lidar com esse número. E, ao final da epidemia, teríamos 2 milhões de mortos”.
O modelo apresentado pelos pesquisadores gerou dois gráficos que resultam na quantidade de mortos no Brasil nos próximos meses e evidenciam um quadro assustador para a população brasileira.
Esse pior cenário representa a condição na qual as restrições sociais não são seguidas.
O modelo foi rodado em 16 de março de 2020, e os cientistas identificaram que a primeira morte pelo coronavírus ocorreria dentro de 5 dias.
“Ontem (16 de março), uma previsão do modelo foi que a primeira morte no Brasil ocorreria em algum momento nos próximos 5 dias. Quando acordei de manhã no dia 17 e fui ler as notícias, tínhamos o primeiro caso fatal”, confirmou Lyra.
Os cientistas alertam que se não foram tomadas medidas de prevenção, e se a população não praticar o distanciamento social, os resultados do modelo vão se concretizar.
“Sem tratamento ou vacina, a única forma dessa epidemia parar naturalmente é ela correr seu curso, infectando centenas de milhões e matando milhões de pessoas.
O modelo prevê 2 milhões de mortos no Brasil se não fizermos nada. Para evitar isso, a população tem que parar de sair de casa, praticar distanciamento social. Apenas isso vai evitar o contágio”, argumenta Lyra.
Lyra ainda destaca que o distanciamento social não evita o estado final da epidemia, mas atrasa de forma que o sistema de saúde não sobrecarregue até o desenvolvimento de um tratamento ou vacina.
"Uma vez retornada a vida cotidiana a epidemia vai correr de novo, mas o atraso que o distanciamento social proporciona é fundamental pra dar tempo para o sistema de saúde não se sobrecarregar com muitos casos ao mesmo tempo e também, esperamos, para dar tempo de desenvolver tratamento ou vacina", explica Lyra.
Os pesquisadores destacam a importância de todas as áreas olharem a pandemia e realizarem esforços para criar maneiras e caminhos que evitem ou ajudem o mundo a conter os casos.
“Devo dizer que eu não sou epidemiólogo, sou astrônomo e astrofísico especializado em matemática aplicada e modelos computacionais. Comecei esse projeto ao ler sobre modelos matemáticos de evolução de epidemias e ver que as equações eram bem parecidas com outras com as quais trabalho todo dia. Tinha, portanto, as ferramentas para resolvê-las em um modelo simplificado”, alega Lyra.
O professor José Dias do Nascimento Júnior demonstra que, no momento atual da população, a ciência é globalizada, e qualquer parâmetro científico não pode ser tratado como algo simples e excluído na hora de tomar decisões para conter a epidemia.
“Estamos passando por um período cíclico de problemas. Isso vai do aquecimento global a grandes epidemias. Estamos hoje fazendo uma ciência globalizada, na qual parâmetros não podem ser tratados como sistemas simples. O próprio planeta em que vivemos e sua população humana são completamentes conectados a um grande sistema complexo”, afirma Nascimento.
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Fonte: TecMundo