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sexta-feira, 20 de março de 2020

Estudo genético mostra por que vírus da covid-19 não foi “feito em laboratório”

Estudo traz evidências de que vírus SARS CoV-2 surgiu a partir dos processos naturais de evolução dos seres vivos
Por Júlio Bernardes
Editorias: Ciências

Quando a epidemia de covid-19 começou a avançar pelo mundo, surgiu uma grande controvérsia sobre a origem do vírus SARS CoV-2, que provoca a doença.
Houve até quem dissesse que o vírus foi manipulado ou mesmo fabricado em laboratório.
No entanto, um estudo de pesquisadores dos Estados Unidos, Escócia e Austrália, descrito em carta publicada na revista Nature Medicine, em 17 de março, traz evidências de que o SARS CoV-2 surgiu a partir dos processos naturais de evolução dos seres vivos.
O texto aponta mutações no genoma do vírus que o tornam mais infeccioso em seres humanos e que surgem aleatoriamente durante sua replicação.
Essas mudanças são imperfeitas, o que torna improvável a hipótese de terem sido produzidas pelo homem.
“Os vírus têm genomas que não são muito grandes, então é possível sequenciá-los por inteiro de maneira bastante confiável, e estabelecer comparações entre as diversas sequências”, comenta o professor Daniel Lahr, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP.
Ele não participou do estudo mas comentou o artigo a pedido do Jornal da USP.
“O vírus SARS CoV-2, causador da covid-19, tem um genoma com cerca de 30 mil pares de bases, enquanto o genoma humano tem aproximadamente 3 bilhões de pares de bases e a bactéria Escherichia coli, cujo uso é muito comum em experimentos laboratoriais, tem de 4 a 5 milhões de pares de bases.”
Bases são as unidades moleculares que formam o DNA, dispostas em duplas na estrutura do código genético.
O professor relata que o estudo identificou uma mutação no genoma do SARS CoV-2 relacionada com a produção da proteína SPIKE, que ajuda o vírus a aderir à superfície das células e introduzir-se nelas para se replicar.
“Em seres humanos, a proteína se liga a um receptor conhecido como ACE2, presente nas células do pulmão, que são invadidas de forma muito intensa, provocando a doença”, descreve.
“Como essa ligação, apesar de eficiente, não é perfeita, é pouco provável que a mutação tenha sido produzida em laboratório.”
Embora a mutação descrita no trabalho seja parecida com a encontrada no genoma de vírus presentes no pangolim (um mamífero aparentado com o tatu), Lahr aponta que é preciso analisar um maior número de amostras recolhidas de animais para determinar com precisão a origem do SARS CoV-2.
“A publicação demonstra a importância de entender a trajetória evolutiva do vírus para, juntamente com estudos bioquímicos sobre sua introdução nas células, criar futuras estratégias de prevenção e tratamento da covid-19”, destaca.
“As vacinas contra a gripe, por exemplo, são produzidas anualmente a partir da coleta de amostras e da identificação das variedades de vírus mais infecciosas.”

Mais informações: e-mail dlahr@ib.usp.br, com Daniel Lahr
Jornal da USP