O medicamento, disponível no Brasil, vem sendo testado nos EUA, China e França – e os resultados são promissores.
Por Rafael Battaglia
19 mar 2020, 18h37
Fonte: Super Interessante
Enquanto a pandemia avança, a ciência corre para testar formas eficazes de combater a Covid-19.
Nesta semana, uma pesquisa publicada no periódico científico Nature
sugere que um remédio usado desde os anos 1940 contra a malária pode ser
uma arma contra o vírus SARS-Cov-2.
O medicamento é a cloroquina
(CQ) – mais especificamente, um derivado dela, a hidroxicloroquina
(HCQ), sintetizada pela primeira vez em 1946 e 40% menos tóxica que a
primeira, criada ainda nos anos 1930.
A cloroquina foi um remédio
amplamente usado no combate à malária – doença causada por parasitas do
gênero Plasmodium e transmitida por mosquito.
Com o tempo, novos fármacos contra ela foram descobertos, e a cloroquina ficou escanteada.
Sua produção, porém, continua, inclusive sob versões genéricas.
Por que ela pode ser eficaz?
Tanto a CQ quanto a HCQ alteram o pH da vesícula das células, deixando-as mais alcalinas.
Essa alteração estrutural no interior das células bagunça aqueles
“espinhos” do coronavírus, que são os receptores que o ele utiliza para
infectá-las.
Dessa forma, ele não consegue penetrá-las nem se multiplicar. E morre.
A hidroxicloroquina também tem ação anti-inflamatória, o que seria
ótimo nos estágios mais avançados da Covid-19, já que ela mata
inflamando os pulmões.
“Prevemos que o medicamento tem um bom
potencial para combater a doença”, escreveram os cientistas que
participaram da pesquisa.
Vale dizer que, em 2005, pesquisas com
cloroquina mostraram que a substância era eficaz no combate à SARS, que
foi causada por um outro tipo de coronavírus.
O estudo consistiu num
teste in vitro – ou seja, injetando o medicamento não em pessoas, mas
em culturas de células misturadas com o vírus.
Na última segunda
(17), outra pesquisa, ainda não publicada, testou os efeitos da
cloroquina – desta vez, em pacientes de Covid-19.
No estudo,
realizado na França, 36 pacientes foram submetidos a doses diárias de
Plaquenil, nome da marca do remédio de hidroxicloroquina e que é
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratar malária,
artrite reumatoide e lúpus.
Após seis dias, 100% dos que estavam infectados testaram negativo para Covid-19.
Nos EUA, uma pesquisa da Universidade de Stanford testou uma combinação
de hidroxicloroquina com azitromicina, um antinflamatório.
De acordo com os cientistas, todos os 40 pacientes se livraram do vírus no mesmo intervalo de tempo.
A situação nos EUA
Quem também anda otimista em relação à HCQ é o presidente dos EUA, Donald Trump.
Nesta quinta-feira (19), ele fez um pedido para o FDA (a Anvisa do
país) para que ela acelere a aprovação do medicamento como forma de
combate ao novo coronavírus.
O bilionário Elon Musk, dono da Tesla, é outro que endossa a ideia.
Declarações como essas necessitam cautela, claro.
O FDA pode não ter autorizado o uso expresso do medicamento para
Covid-19, mas, nos EUA, médicos podem legalmente prescrever um remédio
para qualquer doença ou condição que eles considerem apropriado. Tanto
lá como no Brasil várias empresas fabricam genéricos de
hidroxicloriquina.
Outras formas de combate
Outros remédios estão sendo testados para combater a Covid-19.
É o caso do Remdesivir, que age na síntese do RNA do vírus.
Mas ao contrário do HCQ, o Remdesivir ainda está sob patente na norte-americana Gilead.
Os testes clínicos começaram em 2015, e apesar de ter sido usado em
dois surtos recentes de ebola, ainda não há resultados conclusivos.
A Gilead afirmou que novos testes, focados em Covid-19, acontecerão nos EUA no próximo mês.
Mesmo assim, os cientistas chineses sugerem que a HCQ, por ser mais
barata, acessível e com décadas de eficácia, pode ser a aposta mais
certeira.
Enquanto isso, há também a corrida por uma vacina contra o coronavírus.
Na última terça (18), os EUA fizeram o primeiro teste em humanos.