Médicos da Universidade Columbia e outras instituições dos Estados
Unidos publicaram a revisão mais completa até agora sobre os danos
extrapulmonares do novo coronavírus.
11.7.2020 | REDAÇÃO GALILEU
Logo que começou a atender pacientes graves de Covid-19 no Centro
Médico Irving da Universidade Columbia, em Nova York, a cardiologista
Aakriti Gupta percebeu que a doença é muito mais do que uma enfermidade
respiratória.
“Observei que os pacientes estavam apresentando
muitos coágulos, altos índices de açúcar no sangue mesmo não tendo
diabetes, e muitos tinham danos no coração e nos rins”, relata Gupta, em
comunicado à imprensa.
Para entender esses possíveis outros efeitos
da infecção pelo Sars-CoV-2, a médica se uniu a pesquisadores de outras
instituições acadêmicas e de saúde dos Estados Unidos para analisar
estudos já publicados, além das observações já feitas por especialistas
em seus atendimentos.
O resultado é uma pesquisa, publicada nesta
sexta-feira (10) na revista Nature Medicine, considerada a revisão mais
completa sobre os efeitos extrapulmonares da Covid-19.
“Medicos precisam pensar na Covid-19 como uma doença multissistêmica”, ressalta Gupta.
A seguir, confira os principais achados do estudo:
Coágulos sanguíneos
Cientistas especulam que o maior número de trombose em pacientes
infectados pelo novo coronavírus se deva ao fato de que o vírus ataca
células presentes nos vasos sanguíneos.
A resposta do organismo para isso é a inflamação, que leva à formação de coágulos, grandes e pequenos.
O risco é que eles podem se desprender do vaso onde se formaram e
viajar pelo corpo até pararem em um órgão, o que pode causar
complicações sérias e até a morte.
Médicos de Columbia já estão
conduzindo testes clínicos randomizados para investigar a dose e o
momento ideal de aplicar medicamentos anticoagulantes em pacientes com
Covid-19.
Inflamação
Outro efeito perigoso do Sars-CoV-2 é uma
superestimulação do sistema imunológico, que pode levar a uma inflamação
descontrolada — e letal — no organismo.
Até agora, a droga que se mostrou mais eficaz para conter essa reação é o corticoide dexametasona.
“Cientistas no mundo todo estão trabalhando em um ritmo sem precedentes
para entender como o vírus se apropria dos mecanismos biológicos
protetores [do organismo]”, diz o hematologista Kartik Sehgal, da
Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, que também participou do
estudo.
Coração
Não é só por meio da formação de coágulos que o
novo coronavírus ameaça o órgão que bombeia sangue para o corpo: ele
também causa danos por si só no coração, mas os mecanismos pelos quais
isso acontece ainda não são conhecidos, de acordo com Aakriti Gupta.
A principal hipótese é de que o músculo cardíaco sofre danos pela
inflamação sistêmica e pela liberação de citocinas, células imunológicas
cuja função é eliminar células infectadas e que, em excesso, são
prejudiciais — e é justamente o que se observa em casos graves de
Covid-19.
Insuficiência renal
Os rins também podem ser acometidos pelo novo coronavírus.
Nesse caso, os especialistas suspeitam que o motivo seja porque esses
órgãos concentram uma alta quantidade da enzima ACE2, cujo receptor o
Sars-CoV-2 utiliza para infectar as células.
“Entre 5% e 10% dos pacientes precisaram de diálise. Esse número é muito alto”, destaca Gupta.
Embora ainda não seja possível dizer se esses efeitos são de longo
prazo, os autores suspeitam que, sim, muitas pessoas curadas da Covid-19
vão precisar seguir fazendo procedimentos que ajudem no funcionamento
renal.
“Estudos futuros que acompanhem pacientes que tiveram
complicações durante a hospitalização por Covid-19 serão cruciais”,
observa o cardiologista Mahesh Madhavan, também da Universidade
Columbia.