As ocorrências de incêndio em vegetação, como aquele que no
domingo ajudou a provocar uma tragédia que deixou oito mortos na BR-277, em São
José dos Pinhais, estão cada vez mais comuns no Paraná.
Com o estado enfrentando um dos anos mais secos de sua história,
o número de ocorrências desse tipo teve crescimento de 7,35% até o dia 3 de
agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
As situações às margens de rodovia representam 17,8% dos
registros.
Segundo informações compiladas do Sistema Digital de Dados
Operacionais do Corpo de Bombeiros do Paraná (SYSBM-CCB), desde o começo do ano
já foram registrados 6.425 casos de incêndio em vegetação no estado, sendo que
1.145 dessas ocorrências foram às margens de rodovias — ou uma a cada quatro
horas e meia.
Apenas em São José dos Pinhais, palco da tragédia do último
final de semana, foram 22 ocorrências nas proximidades das BRs 376, 277 e 116,
sendo que oito desses casos foram registrados após o dia 20 de julho.
Em entrevista ao ‘Bem Paraná’, um homem que mora na região
do acidente e que pediu para não ser identificado relatou que episódios de
incêndio, como o ocorrido no último domingo, são relativamente comuns na
região, em especial nessa época do ano.
Além da fumaça, o forte mau cheiro também é outro problema
que os cidadãos são obrigados a suportar.
“Ali é uma zona de banhado, de pântano, e agora, nessa época
que fica mais seco, queima quase todo dia. O cheiro fica horrível e chega a
fechar a visão. É uma fumaça densa e fedida, não é uma fumaça de fogo de mato
normal. É um negócio bem mais trash”, relata o morador.
“Eu já peguei situações de fechar, que você não enxerga
nada. Tem uns malucos que vem chutado, é complicado”, complementa.
Na ocorrência de domingo, o relato de testemunhas aponta
para a ocorrência de acidentes em série por conta da falta de visibilidade na
pista.
Uma das primeiras ocorrências teria envolvido um
motociclista e uma viatura da Polícia Militar, o que acabou interditando a
pista.
Na sequência, carros que vinham atrás foram para o
acostamento e ligaram o pisca alerta, mas o motorista de um caminhão, que não
conseguiu enxergar os carros por causa da fumaça, acabou praticamente passando
por cima dos veículos estacionados.
No local da ocorrência, o cenário era de guerra. Ao São José
Alerta, por exemplo, um motorista chamado Dirceu, que viu toda a situação de
perto, relatou a cena.
“Eu parei o carro e fiquei em choque, tava com medo de sair.
Quando eu saí, já tinha uma moto com um cara tudo arrebentado, estraçalhado do
meu lado. Estou em choque até agora”, disse.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, envolveram-se no
acidente cinco motocicletas, 16 veículos leves, entre eles a viatura da PM, e
uma carreta. Para o atendimento aos oito mortos e 26 feridos, foi necessário um
efetivo de 10 ambulâncias do Corpo de Bombeiros, do Samu e da concessionária
que cuida do trecho, a Ecovia, além de três caminhões de resgate e 15 viaturas
policiais.
Polícia fala em ‘fatalidade’; concessionária não se
pronunciou
Responsável pela investigação que está sendo conduzida pela
Delegacia de São José dos Pinhais, o delegado Fábio Machado disse na tarde de
ontem, em entrevista à Banda B, acreditar que a tragédia na BR-277 tenha sido
uma fatalidade.
O motorista do caminhão envolvido no acidente já foi ouvido
e, de acordo com o policial, não estava embriagado, dirigia dentro da
velocidade permitida e ainda teria tentado tirar o caminhão da pista para
evitar colisões.
A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do
Paraná (Agepar), por sua vez, informou ter solicitado imagens das câmeras que
registrar o fluxo da rodovia e que também monitora os levantamentos que estão
sendo feitos para apurar as causas da série de colisões.
Já a Ecovia, concessionária que administra o trecho da
rodovia em que foi registrado o acidente, ainda não se pronunciou sobre o
assunto. Ainda ontem o Bem Paraná encaminhou uma série de questionamentos à
empresa e à Polícia Rodoviária Federal (PRF), como quando chegaram as primeiras
chamadas sobre o incêndio, quais medidas foram tomadas a partir das denúncias e
também por que não foi fechado o pedágio ou feito um bloqueio na região.
Nenhum dos dois órgãos, entretanto, respondeu aos
questionamentos até o fechamento desta reportagem.
Cinco mulheres e três homens são as vítimas da tragédia
O trágico engavetamento registrado no domingo na RMC deixou
oito pessoas mortas — sete faleceram ainda no local do acidente, enquanto outra
veio a óbito no Hospital Cajuru.
Ao todo, são cinco mulheres e três homens mortos, sendo que
sete das oito vítimas tinha menos de 25 anos, e três delas eram da mesma
família, o casal Ester Nunes e Fernando Jaroz, que deixam um bebê de quatro
meses, e a irmã de Ester, Jéssica Nunes.
Eles estavam a pé indo para um grupo de oração.
Outras duas vítimas são integrantes da comunidade acadêmica
da Universidade Federal do Paraná.
São a técnica de enfermagem Jurema Elvira dos Santos e a
estudante Emanueli de Fátima dos Santos Ferreira, que moravam no litoral
paranaense.
Em nota, a UFPR prestou sentimentos ao familiares e amigos das
vítimas, além de ter declarado luto pelas perdas.
Por fim, outras duas vítimas que já tiveram identificação
confirmada são Guilherme Henrique Ribeiro, de 24 anos, que estava indo para São
José dos Pinhais visitar a namorada quando se envolveu no acidente.
Lucas Moreira, 24 anos, era cabo do Exército e também morreu
no local da batida.